Os comentários de Alexandre Garcia nos telejornais da TV Globo são sempre um festival de impropérios, invariavelmente de cunho elitista. Porém, sua declaração recente em que acusa os alunos ingressos à UnB pelo sistema de cotas de "não possuírem méritos para ingressar na Universidade" revela em sua personalidade um pendor de senhor de escravo, um calejamento próprio de uma classe dominante infecunda e profundamente perversa.
A Lei de Cotas nas universidades completou três anos no ano passado. Fruto da mobilização dos movimentos sociais, logrou colaborar no ingresso de mais de 111 mil alunos negros. Ao contrário do propalado pelos intelectuais da Casa Grande, sua efetivação não precarizou o ensino superior público: segundo dados científicos apurados na avaliação dos 10 anos da implementação do sistema de cotas na UnB, o rendimento dos estudantes cotistas é igual ou superior ao registrado pelos alunos do sistema universal. Outras análises, em dezenas de instituições como Uerj e UFG, coadunam com o diagnóstico.
Os argumentos contrários ao sistema de cotas carregam o signo de uma ideologia que fez com que o País vivesse o colonialismo, a escravidão e a própria ditadura. Está no DNA da classe dominante brasileira buscar impedir à emancipação dos oprimidos, por esses constituírem ameaça ao seu domínio. Para esse fim, ocultam os saqueios e opressões que os povos colonizados foram e são submetidos, ao mesmo tempo em que procuram domesticar o imaginário dos oprimidos a partir de mentiras repetidas à exaustão nos meios de comunicação em massa.
Darcy Ribeiro, fundador da UnB e um dos maiores antrópologos brasileiros, teve ocasião de asseverar que o maior problema do Brasil é sua elite. Segundo ele, as elites brasileiras se apropriam unicamente do poder para usurpar à riqueza nacional, condenando seu povo ao atraso e a penúria (ver O livro dos CIEPS, 1986:98). Por isso, carregamos a inglória posição de terceiro país mais desigual do mundo.
Alexandre Garcia é um conhecido bajulador das hostes oficias. Foi aliado de Ernesto Geisel e porta-voz do ditador João Batista Figueiredo. Foi exonerado após postar seminu numa revista masculina. Apoiou a candidatura de Maluf no Colégio Eleitoral. Foi um dos artífices da cobertura global que favoreceu a ascensão de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso. É, pois, co-participe da tragédia social, política, econômica e ideológica da sociedade brasileira.
A TV Globo, que abriga essa triste figura, é a principal aliada de todas as causas abomináveis patrocinadas pela elite contra o povo brasileiro. Sustentou o golpe de 1964, franqueou amplo apoio ao regime militar, deu sustentação aos governos conservadores após a redemocratização. Seu jornalismo sempre perseguiu os movimentos sociais e lideranças populares, cuja expressão mais retumbante foi o herói da pátria Leonel de Moura Brizola.
Quando insulta os alunos da rede pública egressos pelo sistema de cotas, o jornalista vê nisso paternalismo e esmola. É compressível. Quem ascendeu na carreira com favores e migalhas dos plutocratas só pode enxergar nos outros os vícios que carrega. Felizmente, o povo brasileiro não permitirá que a direita apátrida coloque suas mãos sujas de sangue em seus direitos mais caros, para a tristeza do jornalista e seus correligionários.
Pezão beneficia Cervejaria de Picciani Com R$ 687 Milhões
Grupo Petrópolis recebeu incentivo fiscal por meio de decreto do estado
Embora o Grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, esteja inscrito na Dívida Ativa como devedor de ICMS do estado, a empresa foi beneficiada, em novembro do ano passado, no auge da crise financeira, por um decreto do governador Luiz Fernando Pezão. A canetada incluiu a Itaipava no programa Rioinvest, que prevê incentivos a projetos de grande porte com recursos do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social (Fundes). Com a medida, a cervejaria ganhou incentivos fiscais de R$ 687,8 milhões do governo estadual, na forma de créditos de ICMS ao longo de dez anos.
Na semana passada, O GLOBO revelou um suposto esquema de blindagem tributária favorecendo o Grupo Petrópolis. A reportagem mostrou que, logo após cobrar informações sobre o andamento das ações fiscais instauradas contra distribuidoras do Grupo Itaipava, no valor total de R$ 1 bilhão, a Coordenadoria de Combate à Sonegação Fiscal do Ministério Público teve cortado o acesso à base de dados da Receita estadual, onde é possível acompanhar o andamento das ações fiscais contra sonegadores. Esse acesso estava vigente desde 2006, garantido por convênio assinado entre a Secretaria estadual de Fazenda e a Procuradoria-Geral de Justiça.
No mesmo dia da publicação da reportagem, o secretário estadual de Fazenda, Julio Bueno, exonerou o auditor fiscal Allan Dimitri Chaves Peterlongo do cargo de inspetor-chefe de Substituição Tributária.
Criado em 1997, o Rioinvest também provocou polêmica ao ser utilizado, em junho de 2012, para dar incentivos fiscais de R$ 10,6 bilhões para as montadoras Peugeot-Citroën. Com prazo de pagamento de até 50 anos, prorrogáveis por igual período, o benefício foi alvo de críticas do então secretário de Fazenda de São Paulo, Andrea Calabi. Ele afirmou que o Rio “estava pagando para as montadoras venderem seus carros”. Na ocasião, o estado alegou que o incentivo geraria empregos e contribuiria para o desenvolvimento da economia fluminense.
Em nota conjunta, as secretarias de Fazenda e Desenvolvimento Econômico argumentam que o benefício foi concedido à Itaipava para a “manutenção de 1.460 empregos, em período de grande desemprego, bem como novas contratações que provavelmente acontecerão com a melhora da economia e término do projeto.” O governo explica que o Rioinvest traz competitividade a empresas instaladas no estado que gerem pelo menos 400 empregos.
A cervejaria informou que mantém duas fábricas, em Petrópolis e Teresópolis, gerando 4.700 empregos diretos e quase 20 mil indiretos.
O Grupo Petrópolis, também em nota, informou que preenche todos os requisitos técnicos e legais previstos na legislação para o enquadramento no Rioinvest. A empresa nega que esteja relacionada entre os maiores devedores do estado. O Grupo Petrópolis reitera que tampouco existe decisão judicial em caráter definitivo tornando-a devedora fiscal do estado. A cervejaria diz ainda que tem autos de infração na Fazenda estadual, “que aguardam julgamento, sendo que muitos deles estão sendo cancelados pelo próprio órgão julgador da Secretaria estadual de Fazenda.”
Fonte: Jornal O Globo
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