quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Vende-se máquinas de fazer patacas. Tratar com Moreira Franco

POR  · 23/08/2017
Como colônia, o Brasil não tinha moeda com nome próprio, mas tinha moeda  de  fabricação própria desde  que, em 1695, foi proibida a circulação de moeda portuguesa e espanhola no país e a recém-fundada casa da Moeda, na Bahia, começou a produzir as “duas patacas” de prata.
Proclamou-se a independência, mas a unidade monetária continuou a ter o nome da portuguesa: o real, réis, no plural, que duraram (naturalmente perdendo valor e virando mil-réis e depois conto-de-réis (um milhão de) até o final do Governo Vargas.
Até os anos 70, embora tivéssemos a capacidade técnica de produzir cédulas, não as podíamos fazer nem na variedade nem na quantidade necessárias.
Começamos com a de cinco cruzeiros, a nota do índio, valor que depois das mudanças monetárias ficaria com o Barão do Rio Branco, em cédulas da inglesa Thomas de La Rue, uma das muitas estrangeiras que imprimiu nossas cédulas.
Sempre foi um desafio para nosso país conseguir produzir seu próprio papel moeda e só nos anos 70, na série que tinha Pedro II na nota de dez cruzeiros (os cinco eram com Pedro I) é que nos tornamos autossuficientes na produção de meio circulante.
Desenvolvemos uma alta capacidade técnica e as mudanças de padrão monetário, se aumentaram o trabalho em quantidade, permitiram uma enorme evolução tecnológica, em durabilidade e segurança.
Agora, mais de 300 anos depois de termos criado a Casa da Moeda e quase meio século depois de termos nos tonado autônomos na produção de dinheiro, o Governo Temer anuncia a privatização da Casa da Moeda do Brasil e de toda a sua fabricação a grupos privados. Do dinheiro e todos os impressos de segurança que ali se fazem, como os passaportes.
Os americanos, que não são bestas, têm, desde a Guerra Civil, o seu “The Engraving and Printing Bureau of the Treasury Department”, bem estatalzinho e controlado.
Aqui, Moreira Franco, este varão de Plutarco da honradez, comunicou hoje que, por uns trocados, o Governo entregará a fabricação da moeda nacional a quem deseje comprar as “guitarras”, como eram chamadas as máquinas de fazer dinheiro.
Antonio Carlos Magalhães, conhecedor do assunto, diz que FHC dizia que Moreira Franco não podia ficar onde houvesse um cofre. Que diria dele, então, sobre se metê-lo junto com máquinas de fazer dinheiro?
http://www.tijolaco.com.br/blog/vendem-se-as-maquinas-de-fazer-dinheiro/

Deu prejuízo, vende? Os números da Casa da Moeda provam que não


Prejuízo eventual nunca foi razão para vender empresas que, ao longo do tempo, deram lucro.
Ainda mais quando estas empresas tem mercados cativos ou semi-cativos, nas quais, portanto, é o desempenho da economia e não a competição o responsável por resultados negativos.
É o caso da Casa da Moeda, um ativo estratégico do qual  depende  a segurança do dinheiro brasileiroe de uma série de impressos, desde passaportes até rotulação fiscal
E que sempre deu lucro.
Hoje, no Facebook, Laura Carvalho, colunista da Folha, recupera um texto escrito há 15 meses, no início do  governo golpista, para mostrar que o que era projeto e agora se pôs em prática, em lugar de significar economia para as contas públicas, é redução de receita, à medida em que priva o Estado de receber os dividendos de empresas historicamente lucrativas.
Vale a pena a leitura de um trecho:

Pescadores de ilusões


Laura Carvalho, na Folha, em 18/05/16
Na profusão de notícias atribuídas ao governo provisório, constam inúmeras medidas cuja radicalidade contrasta com a interinidade e a falta da legitimidade conferida pelo voto. Seria o caso de uma eventual privatização dos Correios e da Casa da Moeda.
Na taxonomia apresentada no “Staff Note” do FMI intitulado “Accounting devices and fiscal illusions”, cujo conteúdo resumi na coluna “Rigor Seletivo”, de 15/10/2015, uma das quatro formas de reduzir artificialmente o deficit público é a dos chamados desinvestimentos, que elevam receitas hoje em detrimento de receitas futuras.
Como aponta o autor, ainda que a arrecadação oriunda da venda de ativos públicos possa ser contabilizada como reduzindo o deficit imediato, o governo também perde os dividendos futuros das empresas privatizadas, o que pode tornar o benefício fiscal da operação muito menor ou até mesmo inexistente.
Os Correios, que não foram privatizados nem nos EUA por seu caráter estratégico e essencial, registraram em média R$ 800 milhões de lucro líquido por ano desde 2001 (aos preços atuais), dos quais ao menos 25% voltaram para a União na forma de dividendos. Antes do agravamento da crise, o lucro líquido dos Correios chegou a ultrapassar a faixa de R$ 1 bilhão, em 2012, e o da Casa da Moeda atingiu um recorde de R$ 783 milhões, em 2013. (Nota do Tijolaço: veja aqui)
Outros anúncios recentes reforçam a impressão de que a gestão das contas públicas pelo governo interino será menos transparente –além de mais regressiva e contraproducente– do que a posta em prática pelo governo eleito nos últimos anos.
Está claro? Por uns trocados agora, entregamos muito mais no futuro, como o homem que estripou a galinha dos ovos de ouro.

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