Para professor da USP, gestão de Fernando Haddad PTpode virar marco em São Paulo
Via Brasil
247
A
virada civilizatória de Haddad
O
prefeito Fernando Haddad segue hoje uma agenda própria, que
confronta tabus de São Paulo, como o protagonismo do carro.
É
difícil hoje alguém ter a coragem de contestar o fato de que as
cidades precisam encontrar novas soluções para o deslocamento em
massa, e deixar de construir mais viadutos e túneis. Elas precisam
de soluções que não consumam tanto petróleo, que não poluam
tanto o ar, que não induzam à impermeabilização do solo e que não
gerem tanto congestionamento.
Em
São Paulo, nem os maiores opositores da gestão de Fernando Haddad
podem negar o fato de que as ações do prefeito estão orientadas
para o interesse coletivo, em termos tanto sociais como econômicos e
ambientais.
Os
358 quilômetros de novas faixas exclusivas de ônibus em São Paulo
são ações evidentes nessa direção, assim como os 78 quilômetros
de ciclofaixas recentemente instaladas (a previsão é chegar a 400
quilômetros até o final de 2015). A considerável melhora na
avaliação do prefeito pela população é sinal claro dessa
consciência.
Diferentemente
do que se costuma pensar, a bicicleta pode ser, sim, uma modalidade
significativa no transporte da cidade. Isso porque 25% do
congestionamento que temos hoje se deve a percursos curtos feitos de
carro – menos de 3 quilômetros. Mas a bicicleta não é só um
meio de transporte menos poluente e mais compacto: sobre ela temos
maior empatia com o entorno.
As
ações de Haddad se conectam com as recentes mudanças de
comportamento. Existe atualmente uma tendência de abandono das
regiões suburbanas (como Alphaville e Granja Viana) e de volta para
as áreas mais centrais da cidade.
Além
disso, o carro vem deixando de ser um bem de consumo imprescindível
para as novas gerações, e os espaços públicos passaram a ser mais
utilizados e reivindicados pela população, de par com as intensas
mobilizações em prol do transporte público como um “direito à
cidade”.
Daí
a tônica do novo Plano Diretor, que procura conectar as ações de
mobilidade ao adensamento populacional nesses eixos de transporte,
diminuindo a distância entre moradia e trabalho e restringindo o
número de vagas de garagem nessas áreas. Isso porque, ao contrário
do que ocorre na maior parte do mundo desenvolvido, a nossa
legislação até agora exigia números mínimos de vagas, e não
máximos.
Outros
exemplos positivos da gestão Haddad podem ser citados, como o IPTU
progressivo sobre os imóveis vazios, a inauguração das duas
primeiras centrais mecanizadas de triagem de resíduos sólidos e a
ampliação da coleta seletiva do lixo. Há também o apoio aos
moradores da Cracolândia por meio de um programa que associa saúde,
emprego, moradia e assistência social.
A
defesa dessas posições não deve ser confundida com uma campanha
eleitoreira. Boa parte da independência das ações da prefeitura se
deve, a meu ver, ao próprio isolamento de Haddad dentro do PT.
Visto
com má vontade pela mídia, dispondo de baixo Orçamento, engessado
pela progressiva judicialização da política e menos comprometido
com a “realpolitik” do seu partido, o prefeito não viu outro
caminho que não o de seguir a sua própria agenda. Uma agenda que
confronta tabus cruciais da nossa sociedade, como o protagonismo do
carro na cidade.
Haddad,
no entanto, não faz um voo solo. Caso raro entre nós, é um
político que concilia ações imediatas e cirúrgicas com uma visão
abrangente e de longo prazo. É, portanto, um ator de ponta na
política, assumindo uma liderança em decisões estratégicas na
linha de outros prefeitos de grandes metrópoles, de espectros
políticos variados, como Nova Iorque, Medellín e Bogotá.
Quando
a política parece estar submetida à hegemonia do marketing, como um
reality show de estatísticas e de pesquisas construídas de maneira
autogerada e pouco refletida, vejo a coerência contundente de Haddad
com grande admiração. Não me espantarei se esses anos ficarem
marcados na história como um ponto de virada civilizatória em São
Paulo.
http://limpinhoecheiroso.com/2014/11/05/para-professor-da-usp-gestao-de-fernando-haddad-pode-virar-marco-em-sao-paulo/
O prefeito Fernando Haddad segue hoje uma agenda própria, que confronta tabus de São Paulo, como o protagonismo do carro.
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